quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Thomas R. Maltus-TEXTO II -Capítulo I Ensaio Sobre a População


MALTHUS. Thomas Robert
Ensaio sobre a População, 1798
Tradução Antonio Alves Cury. Editora Nova Cultural. São Paulo, 1996.

Não conheço nenhum escritor que tenha admitido que nesta terra o homem, fundamentalmente, seja capaz de viver sem alimento. Mas o Sr. Godwin prognosticou que a paixão entre os sexos pode ser extinta com o tempo. Contudo, como ele considera esta parte de seu trabalho um desvio para o campo da conjectura, não insistirei mais sobre isso agora, a não ser em afirmar que os melhores argumentos para provar a perfectibilidade do homem provêm de um estudo do grande progresso que ele já realizou desde o estado bárbaro e da dificuldade de dizer onde ele se detém. Mas, com relação à extinção da paixão entre os sexos, nenhum progresso, qualquer que ele seja, foi feito até aqui. Ela parece existir com tanto ímpeto agora como existia há dois ou há quatro mil anos. Existem exceções hoje como sempre existiram. Mas, como essas exceções não parecem crescer numericamente, decerto seria uma demonstração antifilosófica inferir, simplesmente a partir da existência de uma exceção, que a exceção com o tempo se tornaria a regra e a regra a exceção. Então, adotando meus postulados como certos, afirmo que o poder de crescimento da população é indefinidamente maior do que o poder que tem a terra de produzir meios de subsistência para o homem. A população, quando não controlada, cresce numa progressão geométrica. Os meios de subsistência crescem apenas numa progressão aritmética. Um pequeno conhecimento de números demonstrará a enormidade do primeiro poder em comparação com o segundo. Por aquela lei da nossa natureza que torna o alimento necessário para a vida humana, os efeitos desses dois poderes desiguais devem ser mantidos iguais. Isso implica um obstáculo que atua de modo firme e constante sobre a população, a partir da dificuldade da subsistência. Esta dificuldade deve diminuir em algum lugar e deve, necessariamente, ser duramente sentida por uma grande parcela da humanidade. Por todo o reino animal e vegetal a natureza espalhou largamente as sementes da vida, com a mão a mais generosa e pródiga. Ela foi relativamente parcimoniosa quanto ao espaço e à alimentação necessários para criá-los. As células vitais contidas nesta parte da terra, com bastante alimento e espaço para se expandir, preencherão milhões de mundos no decurso de uns poucos milhares de anos. A miséria que despoticamente permeia toda a lei da natureza limita estes mundos mediante determinadas restrições. Os reinos vegetal e animal se reduzem sob esta grande lei limitadora. E a espécie humana não pode, por simples esforços racionais, escapar dela. Entre as plantas e os animais suas consequências são a perda do sêmen, a doença e a morte prematura. Na espécie humana, a miséria e o vício. O primeiro, a miséria, é uma consequência absolutamente necessária da lei. O vício é uma consequência altamente provável e, por essa razão, o vemos predominar largamente, mas não pode, talvez, ser chamado de consequência absolutamente necessária. A provação da virtude é resistir a toda tentação do mal. Essa desigualdade natural dos dois poderes, da população e da produção da terra, e essa grande lei da nossa natureza que deve manter constantemente uniformes suas consequências constituem a grande dificuldade, que a mim me parece insuperável no caminho da perfectibilidade da sociedade. Todos os outros argumentos são de importância pequena e secundária em comparação com este. Não vejo nenhuma forma pela qual o homem possa escapar da influência desta lei que impregna toda a natureza viva. Nenhuma igualdade fantasista, nenhuma norma agrária, no seu maior alcance, podem remover a sua pressão mesmo por apenas um século. E, por essa razão, a lei se mostra decisiva contra a possível existência de uma sociedade em que todos os membros viveriam em tranquilidade, prosperidade e num relativo ócio, e não sentiriam nenhuma angústia para providenciar os meios de subsistência para si e para os filhos.
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Thomas R. Maltus-TEXTO I -Prefácio Ensaio Sobre a População


Maltus. Thomas Robert
Ensaio sobre a População
Tradução Antonio Alves Cury. Editora Nova Cultural. São Paulo, 1996

Este ensaio se originou de uma conversa com um amigo acerca do tema do ensaio do Sr. Godwin sobre a avareza e a prodigalidade, no seu Enquirer. A discussão começou com a questão geral sobre o aperfeiçoamento futuro da sociedade, e o autor tinha inicialmente a intenção de simplesmente expressar ao amigo seus pensamentos por escrito de uma forma mais clara do que pensava que poderia fazê-lo numa conversa. Como o assunto se lhe apresentou, ocorreram algumas idéias que ele não se lembrava de ter percebido antes, e como pensou que qualquer mínimo esclarecimento sobre um tema, no geral tão interessante, poderia ser recebido com boa vontade, resolveu organizar seus pensamentos de forma adequada para publicação. O ensaio poderia ter sido, sem dúvida alguma, muito mais completo, mediante uma compilação de maior número de fatos na elucidação da argumentação geral. Mas uma longa e quase completa interrupção por causa de muitos negócios particulares, aliada a uma vontade (talvez imprudente) de não atrasar muito além do prazo que originariamente se propunha, impediram o autor de dar ao assunto uma completa atenção. Ele supõe, contudo, que os fatos que expôs não servirão de base para criar nenhuma evidência sem valor, por causa da validade de sua opinião com relação ao aperfeiçoamento futuro da humanidade. Atualmente, da forma que o autor concebe esta opinião, pouco mais lhe ocorre ser necessário para fundamentá-la do que uma simples afirmação, além da mais superficial visão da sociedade. É uma verdade óbvia, observada por muitos escritores, que a população deve sempre ser mantida abaixo do nível dos meios de subsistência; mas nenhum escritor que o autor cita investigou particularmente os meios pelos quais esse nível é atingido; é uma concepção desses meios que constitui, no seu modo de pensar, o mais forte obstáculo no caminho de um grande aperfeiçoamento futuro da sociedade. O autor espera que essa concepção surja da discussão deste interessante assunto porque ele é movido unicamente por amor à verdade e não por preconceito contra qualquer grupo de homens ou de opiniões.
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quinta-feira, 9 de maio de 2019

O Iluminismo, Ilustração ou Esclarecimento na prespectiva histórica citando os filósofos e pensadores.

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quarta-feira, 8 de maio de 2019

A Ética consequencionalista de Jean-Paul Sartre e o filme Corra Lola, Corra de Tom Tykwer


Breve descrição: filme relata a história de Lola e seu namorado onde ela se vê em diferentes possibilidades de escolha. De acordo com sua escolha o fim da história se altera. è possível traçarmos uma relação entre o filme e a Ética consequencionalista de Jean-Paul Sartre, quer dizer, mesmo em situações limite e difíceis temos a liberdade de escolher a ação a ser tomada por nós. Porém, como no filme, cada escolha produz um final diferente. Assim, nossas escolhas, como para Sartre trazem o peso da consequência.  


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terça-feira, 7 de maio de 2019

Artigo sobre o filme Agentes do Destino por Mário Pereira Gomes


Artigo sobre o filme Agentes do Destino por Mário Pereira Gomes (https://medium.com/@mariogomes/uma-crítica-ao-filme-os-agentes-do-destino-5344247a4027)



Nós somos livres ou apenas temos a ilusão de liberdade? Esta problemática é o mote da obra cinematográfica Os Agentes do Destino (título original: The Adjustement Bureau) baseado num conto de Philip K. Dick (a.k.a PKD). Antes de partir para a análise cabe destacar que o filme acabou por retirar o caráter gnóstico do conto tornando-se apenas mais um filme sobre um casal que luta contra todos para viverem o verdadeiro amor.

O candidato a senador David Norris (Matt Damon) está num banheiro conversando consigo mesmo após ter perdido a eleição, mas é interrompido por Elise que estava escondida por ter entrado sem convite numa festa de casamento. O encontro com ela o inspira de tal forma que David faz o melhor discurso de sua vida salvando assim a própria carreira política. No dia seguinte vemos dois agentes numa praça e eles conversam entre si de que o protagonista deve derramar café na própria roupa às 07h05min para que chegue atrasado no novo emprego.

Todavia, o agente responsável por atrasá-lo acaba por cochilar num banco e David não se atrasa. Quando chega na empresa ele se depara com uma cena fora do comum: agentes desenergizando os funcionários. Ao tentar fugir ele é capturado e descobre que a realidade é moldada segundo os planos de Deus (chamado no filme apenas de Presidente) e os agentes do destino (anjos) são os responsáveis por impedir que as pessoas sigam um caminho distinto do que foi planejado para eles. Thompson, um dos agentes, fala que eles interferiram na humanidade em momentos em que a racionalidade foi o guia dos humanos como o Renascimento, a Revolução Científica e o Iluminismo.

Épocas como a Idade Média e as duas guerras mundiais são tratadas como períodos em que os agentes estiveram afastados do mundo e a espécie humana esteve por conta própria e guiada pelos seus impulsos mais primitivos. Edward Gibbon aprovaria tal obra cinematográfica. Voltando ao filme Thompson ainda afirma que se David não se afastar de Elise os sonhos dos dois morrerão, então o protagonista decide abandoná-la e canalizar todas as suas energias para a política.

Harry, o único agente que se compadece de David, encontra este num galpão e diz que Thompson quer o fim do relacionamento com Elise por esta ser o suficiente para ele. Com ela David não precisaria preencher o vazio que sente com os aplausos, o reconhecimento e o poder. Harry decide ajudar seu mais novo amigo e este se encontra com Elise e fala para ela que mostrará a verdade não apenas sobre a realidade com o intuito de falar com o Presidente para que este altere o plano em relação aos dois para que estes possam viver o amor verdadeiro. Simbolicamente a porta para o prédio em que está o Presidente se encontra na base da Estátua da Liberdade, mas eles não encontram Deus e ao chegar no topo se veem cercados pelos agentes.

Os dois se beijam e seus perseguidores somem para em seguida aparecer Harry trazendo uma mensagem do Presidente: a partir de agora David e Elise terão de fazer o próprio destino, ou seja, não há mais nenhum plano divino que norteará a vida dos dois. Através do poder do amor eles se tornaram verdadeiramente livres. Por fim, o casal anda pelas ruas de Nova York, enquanto Harry narra que o plano de Deus é de que um dia os seres humanos usem o livre-arbítrio de forma sábia ao ponto de não ser mais necessário escrever plano algum.

Ao negligenciar as características gnósticas do conto que inspirou a obra fílmica esta se torna desprovida de críticas sobre a natureza da nossa realidade. Você assiste e depois continua levando sua vida em que acorda de manhã para trabalhar durante 8 horas; voltar para casa com o intuito de comer e assistir televisão até dormir para que no dia seguinte o ciclo se repita.

No entanto, o que PKD queria era que após ler o conto ou ver um obra fílmica realmente baseada em uma de suas obras você usasse seus mais de 80 bilhões de neurônios para investigar o que chamamos de realidade e não para se entorpecer com um filme melodramático.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScC4coVGwx_Ymi5eaaYby1xOHiOVJxdzXeO68ZvEf_sEuhW4Q/viewform?usp=pp_url
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quarta-feira, 24 de abril de 2019

Texto de KANT: Resposta à Pergunta: Que é esclarecimento

                    Esclarecimento [<Aufklärung>] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude!  Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [<Aufklärung>].                     A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter maiorennes), continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçarme eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da humanidade (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela. Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranqüilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes, em seguida, o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro. É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este
movimento livre. Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender então uma marcha segura.  Que, porém, um público se esclareça [<aufkläre>] a si mesmo é perfeitamente possível; mais que isso, se lhe for dada a liberdade, é quase inevitável. Pois, encontrar-se-ão sempre alguns indivíduos capazes de pensamento próprio, até entre os tutores estabelecidos da grande massa, que, depois de terem sacudido de si mesmos o jugo da menoridade, espalharão em redor de si o espírito de uma avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar por si mesmo. O interessante nesse caso é que o público, que anteriormente foi conduzido por eles a este jugo, obriga-os daí em diante a permanecer sob ele, quando é levado a se rebelar por alguns de seus tutores que, eles mesmos, são incapazes de qualquer esclarecimento [<Aufklärung>]. Vê-se assim como é prejudicial plantar preconceitos, porque terminam por se vingar daqueles que foram seus autores ou predecessores destes. Por isso, um público só muito lentamente pode chegar ao esclarecimento [<Aufklärung>]. Uma revolução poderá talvez realizar a queda do despotismo pessoal ou da opressão ávida de lucros ou de domínios, porém nunca produzirá a verdadeira reforma do modo de pensar. Apenas novos preconceitos, assim como os velhos, servirão como cintas para conduzir a grande massa destituída de pensamento.  
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