MALTHUS. Thomas Robert
Ensaio sobre a População, 1798
Tradução Antonio Alves Cury. Editora Nova Cultural. São Paulo, 1996.
Não conheço nenhum escritor que
tenha admitido que nesta terra o homem, fundamentalmente, seja capaz de viver
sem alimento. Mas o Sr. Godwin prognosticou que a paixão entre os sexos pode
ser extinta com o tempo. Contudo, como ele considera esta parte de seu trabalho
um desvio para o campo da conjectura, não insistirei mais sobre isso agora, a
não ser em afirmar que os melhores argumentos para provar a perfectibilidade do
homem provêm de um estudo do grande progresso que ele já realizou desde o
estado bárbaro e da dificuldade de dizer onde ele se detém. Mas, com relação à
extinção da paixão entre os sexos, nenhum progresso, qualquer que ele seja, foi
feito até aqui. Ela parece existir com tanto ímpeto agora como existia há dois
ou há quatro mil anos. Existem exceções hoje como sempre existiram. Mas, como
essas exceções não parecem crescer numericamente, decerto seria uma
demonstração antifilosófica inferir, simplesmente a partir da existência de uma
exceção, que a exceção com o tempo se tornaria a regra e a regra a exceção.
Então, adotando meus postulados como certos, afirmo que o poder de crescimento
da população é indefinidamente maior do que o poder que tem a terra de produzir
meios de subsistência para o homem. A população, quando não controlada, cresce
numa progressão geométrica. Os meios de subsistência crescem apenas numa
progressão aritmética. Um pequeno conhecimento de números demonstrará a
enormidade do primeiro poder em comparação com o segundo. Por aquela lei da
nossa natureza que torna o alimento necessário para a vida humana, os efeitos
desses dois poderes desiguais devem ser mantidos iguais. Isso implica um
obstáculo que atua de modo firme e constante sobre a população, a partir da
dificuldade da subsistência. Esta dificuldade deve diminuir em algum lugar e
deve, necessariamente, ser duramente sentida por uma grande parcela da
humanidade. Por todo o reino animal e vegetal a natureza espalhou largamente as
sementes da vida, com a mão a mais generosa e pródiga. Ela foi relativamente
parcimoniosa quanto ao espaço e à alimentação necessários para criá-los. As
células vitais contidas nesta parte da terra, com bastante alimento e espaço
para se expandir, preencherão milhões de mundos no decurso de uns poucos
milhares de anos. A miséria que despoticamente permeia toda a lei da natureza
limita estes mundos mediante determinadas restrições. Os reinos vegetal e
animal se reduzem sob esta grande lei limitadora. E a espécie humana não pode,
por simples esforços racionais, escapar dela. Entre as plantas e os animais
suas consequências são a perda do sêmen, a doença e a morte prematura. Na
espécie humana, a miséria e o vício. O primeiro, a miséria, é uma consequência
absolutamente necessária da lei. O vício é uma consequência altamente provável
e, por essa razão, o vemos predominar largamente, mas não pode, talvez, ser
chamado de consequência absolutamente necessária. A provação da virtude é
resistir a toda tentação do mal. Essa desigualdade natural dos dois poderes, da
população e da produção da terra, e essa grande lei da nossa natureza que deve
manter constantemente uniformes suas consequências constituem a grande
dificuldade, que a mim me parece insuperável no caminho da perfectibilidade da sociedade.
Todos os outros argumentos são de importância pequena e secundária em
comparação com este. Não vejo nenhuma forma pela qual o homem possa escapar da
influência desta lei que impregna toda a natureza viva. Nenhuma igualdade
fantasista, nenhuma norma agrária, no seu maior alcance, podem remover a sua
pressão mesmo por apenas um século. E, por essa razão, a lei se mostra decisiva
contra a possível existência de uma sociedade em que todos os membros viveriam
em tranquilidade, prosperidade e num relativo ócio, e não sentiriam nenhuma
angústia para providenciar os meios de subsistência para si e para os filhos.